SOJA
A
saúde é consequência de uma nutrição
adequada do indivíduo, que é favorecida por dietas bem balanceadas.
Uma dieta balanceada deve conter proteínas, lipídios, carboidratos,
minerais, vitaminas e calorias suficientes para proporcionar o desenvolvimento
saudável do indivíduo. Os alimentos de origem animal são
as melhores fontes protéicas, mas situam-se fora do alcance, pelo
menos em quantidades adequadas, de grande parte da população
brasileira. Portanto, uma alternativa viável para solucionar o problema
da desnutrição é estimular o consumo de produtos de
soja, que são fontes protéicas nutritivas, econômicas
e disponíveis no mercado.
A soja é essencialmente um alimento fornecedor de proteínas,
como pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1 - Composição média
(%) do grão de soja e de seus componentes
|
Casca |
Cotilédones |
Hipocótilo |
Grão de Soja (Total) |
Proteína |
8,8 |
42,8 |
40,8 |
40,3 |
Óleo |
1,0 |
22,8 |
11,4 |
21,0 |
Minerais |
4,3 |
5,0 |
4,4 |
4,9 |
Açúcares |
8,6 |
29,4 |
43,4 |
33,8 |
Rendimento |
7,3 |
90,3 |
2,4 |
100 |
A qualidade das proteínas é medida pelo seu valor biológico,
o qual é determinado por índices como o Coeficiente da Eficiência
Protéica (PER), que é calculado através da relação
ganho de peso pela quantidade de proteína consumida. A qualidade
das proteínas de soja corresponde a 80% do valor biológico
das proteínas do leite de vaca, quando considera-se que o PER da
caseína é 2,5 e o PER da soja é 2,0. A qualidade das
proteínas é determinada em função da sua composição
quantitativa de aminoácidos essenciais. As proteínas da soja
apresentam um bom balanceamento desses aminoácidos, quando comparadas
às de outros vegetais. Entretanto, como é comum às
leguminosas, as proteínas da soja apresentam um teor reduzido dos
aminoácidos sulfurados, metionina e cistina, e um teor elevado do
aminoácido lisina, conforme se observa na Tabela 2.
Tabela 2 - Composição dos aminoácidos
essenciais (g/16g N) presentes nos grãos de soja e na farinha e
o requerimento padrão da FAO.
AMINOÁCIDOS
|
PADRÃO (FAO)
|
GRÃO
|
FARINHA
|
Cistina
|
4,2
|
1,3
|
1,6
|
Isoleucina
|
4,2
|
4,5
|
4,7
|
Leucina
|
4,8
|
7,8
|
7,9
|
Lisina
|
4,2
|
6,4
|
6,3
|
Metionina
|
2,2
|
1,3
|
1,4
|
Fenilalanina
|
2,8
|
4,9
|
5,3
|
Treonina
|
2,8
|
3,9
|
3,9
|
Triptofano
|
1,4
|
1,3
|
1,3
|
Tirosina
|
2,8
|
3,1
|
3,8
|
Valina
|
4,2
|
4,8
|
5,1
|
O óleo presente nos grãos de soja em teores adequados (20%),
fornece as calorias necessárias ao organismo, permitindo que as
proteínas ingeridas da dieta sejam metabolizadas para síntese
de novos tecidos, ao invés de serem destinadas à produção
de energia, o que é comum nas dietasde baixo conteúdo calórico.
O óleo de soja apresenta alta digestibilidade e não contém
colesterol como ocorre com as gorduras de origem animal. Os ácidos
graxos Insaturados representam 86% do total de lipídeos na soja,
e 60% destes são constituídos pelos ácidos graxos
essenciais, como linoleico e linolênico, observado na Tabela 3.
Tabela 3 - Composição média dos
ácidos graxos (%) no óleo de soja.
ÁCIDOS GRAXOS
|
%
|
Palmítico
|
9
|
Esteárico
|
4
|
Oléico
|
24
|
Linoléico
|
54
|
Linolênico
|
8
|
Outros
|
1
|
A soja contém
cerca de 35% de carboidratos totais. Os carboidratos insolúveis
são celulose, hemicelulose e lignina encontrados na casca do grão,
constituindo as fibras que auxiliam a digestão dos alimentos e ajudam
a prevenir a incidência de câncer do colon. A sacarose é
o principal açúcar solúvel presente nos grãos
de soja e representa cerca de 5% do total de carboidratos. Os outros açúcares
são os oligossacarídeos estaquiose (3,8%) e rafinose (1,2%),
que devido a complexidade das suas moléculas são de difícil
digestão, causando sintomas de flatulência. A germinação,
no caso da produção de brotos de soja, e a fermentação
são processos que mobilizam esses açucares, reduzindo os
problemas de flatulência. A maceração e o cozimento
também favorecem a solubilização dos açúcares.
A soja apresenta boa composição de alguns minerais como o
ferro, cuja quantidade é superior à dose diária recomendada.
Entretanto, não é boa fonte de cálcio e zinco, apresentando
cerca de um terço e um quarto, respectivamente, da recomendação
diária, que é observado na Tabela 4.
Tabela 4 - Concentração de minerais nos
grãos de soja e percentual das necessidades nutricionais recomendadas.
MINERAIS |
Mg/100g |
RDA*(%) |
Cálcio |
0,16-0,47 |
39 |
Fósforo |
0,42-0,82 |
77 |
Magnésio |
0,22-0,24 |
66 |
Zinco |
0,37 |
24 |
Ferro |
0,9-1,5 |
120 |
* Baseado na “Dose Diária Recomendada” (RDA) do Food
and Nutritional Board, N. A. S. (USA) para homens adultos (22-35 anos;
peso = 70Kg). Fonte: Smith & Circle (1972).
Comparando-se também
a composição química da soja com a de outros alimentos,
evidencia-se sua superioridade em relação a outros vegetais,
e sua equivalência, em relação aos produtos animais.
Quanto ao conteúdo vitamínico, a soja é boa fonte
das vitaminas do complexo B, com exceção da vitamina B12.
Os grãos maduros de soja apresentam teores reduzidos de ?-caroteno
(pró-vitamina A) e o ácido ascórbico (vitamina C).
Entretanto, teores elevados destas duas vitaminas são encontrados
nos grãos de soja totalmente desenvolvidos e verdes (não
maduros) e em brotos de soja (Bates & Matteews, 1975).
O extrato solúvel (“leite”) de soja é uma opção
alimentar nutritiva e econômica, que pode atender às necessidades
das pessoas que buscam alimentos mais saudáveis (livre de colesterol,
por exemplo), ou, nas pessoas alérgicas a lactose (açúcar
do leite de vaca). Observa-se que o “leite” de soja é uma alternativa
viável para alimentação, apesar de sua deficiência
em cálcio e vitaminas A e C. A soja é, também, excelente
fonte protéica, pois suas proteínas apresentam um balanceamento
adequado dos aminoácidos essenciais. A economicidade da soja é
evidenciada quando se compara o custo de sua proteína com o das
proteínas alimentares, principalmente, quando se considera seu valor
biológico.
Conclui-se, portanto, que a soja e seus derivados constituem-se numa alternativa
viável como fonte protéica complementar, que pode fortificar
e enriquecer a dieta tradicional, sem modificar as propriedades e o sabor
dos alimentos. As propriedades terapêuticas da soja, colocam em evidência
sua utilização na prevenção e no controle de
doenças crônicas, tais como câncer, arteriosclerose
e diabetes, entre outras (Messina et al., 1994, Mandarino & Carrão-Panizzi,
1997).
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